Corte de cabelo

Essas madeixas
Que vão e voltam
No vaivém do tempo
Os processos
As instabilidades
As mudanças
E também as permanências.

No vaivém das tesouras
Só se traduzem

Só, somente só

A solitude segue desafiante:
desafio que me desafia
a me desafiar,
a me desfiar
pelo fiar das horas.

A solidão segue sorrateira:

me surpreendendo quando não devia
em nada solidária,
em tudo soturna
solfejando silêncios.

[28/10/17]

Pedido

Deus...! Ajuda
a achar minha grama
tão verde quanto.

[28/10/17]
Me envolvi no processo de aprender efetivamente o que é haikai.
É uma arte incrível e que me encanta inteiramente.

Seguem meus três primeiros, exercícios que fiz em 29 de junho:


sem folhas, seca

nascendo entre tanto
verde; uma fase.

---


sabor do vento:
balançavam sem parar
os balõezinhos no ar

---

bola parada
fora do campo, no sol
sem o futebol

Céus e águas de março

I
Senhor
obrigada pela misericórdia:
desagua o céu em chuva
pra que eu consiga 
debandar em lágrimas turvas


Chove tanto que sou chuva 
Só obrigada mais uma vez:


Não sei inundando ou 
esgoto abaixo
Sei chovendo, no nublado.

amanhã pode fazer sol
e germinar semente. 
ou chover 
e molhar de lágrima a gente.
(05/05/17)



II
Faz chuva para orar. Para dar tempo de fazer crescer.

Faz sol para pregar. Para iluminar os caminhos a percorrer.
(18/05/2017)

Diferenças

Todos são iguais perante o Deus e a Lua:
que oculta de seus olhos
com seu véu (negro)
as diferenças.

Todos são iguais perante a Lei e o Sol:
que garante a igualdade
e rege a todos;
mas atende a uns
mais do que outros.

E de fato:
ao dormir, todos sonham;
mas
ao acordar, nem todos comem.

Todos migram
e esse contingente
c
o
n
t
í
n
u
o
de pessoas
sem rosto,
sem cor,
passando por
estradas de dor:
a dor de sentir
e a dor de deixar;
a dor do ir e vir
e a dor do mover (d)a vida
e do carregá-la como bagagem.

Vão todos
que migram sem parar
(até quando parados).


[perdido por aí, desde 2011]